Pois é, o Metrópolis entrou de cabeça na
onda das bruxas. Volta e meia a gente sabe que a ficção se
apropria desse imaginário dessas mulheres livres e cheias de magias. São livros, filmes, séries. Nesse momento, além da internet inteira estar
em uma febre de bruxa, a gente ganhou uma madrinha de responsa: Fernanda Montenegro. Nossa xamã, Fernanda Montenegro.
Não, xamã são os homens. As mulheres são as bruxas. Cláudia, esse fenômeno das bruxas como cultura pop é uma coisa recente ou uma coisa que tá presente na literatura, no cinema, na
música há muito tempo? Olha, acho que funciona meio como onda, sabe? Tá presente há bastante tempo, né? A gente fala
de bruxas desde pelo menos a odisseia, somos fãs delas, mas elas aparecem de vez em quando
assim, na nossa imaginação, especialmente no ocidente, né? Então você tem as bruxas muito ligadas,
por exemplo, ao movimento feminista dos anos 70, 80, você tem literatura mais antiga falando
de bruxas também, você tem os contos de fadas, que são universais. Você está sozinha, meu bem? Você falou da odisseia, ‘Circe’ foi um livro…
queria que você contasse um pouquinho. Foi o livro mais vendido ano passado nos Estados
Unidos, é isso?
Foi isso e assim, foi um sucesso da Madelaine
Miller, porque é a figura dessa bruxa, que a gente sempre entendeu de uma determinada
forma na odisseia e que agora tem mais camadas, uma história interna muito poderosa. E a Circe, na odisseia original, ela funciona
como essa tentação do Odisseu, aquela mulher sensual, poderosa, mágica que vai prender
o nosso herói por anos a fio, porque ela é muito sedutora, a mulher sempre tinha esse
papel como tentação para os heróis, para os grandes heróis do passado. E agora a gente tá subvertendo isso, a Circe
pode ser a nossa heroína. Fantasia ela ganha camadas, ela ganha força
quando o mundo tá em crise de identidade, né? Tipo agora.
Tipo agora. Então as bruxas elas vêm com esse poder,
aparecem no Instagram, aparecem como ícones da cultura pop também, porque a gente tá
num momento de instabilidade. Como é que você começou na bruxaria? Bom, eu comecei na adolescência, eu assistia
os filmes de bruxas, ‘Harry Potter’, ‘Jovens Bruxas’, que a referência de toda bruxa é
‘Jovens Bruxas’, né? Existe preconceito? Quando eu falo que eu sou bruxa, as pessoas
já ficam: “Mas cadê a sua vassoura, né?” E lá vamos nós. Existe essa conexão da mulher com o mundo
natural, com os grandes mistérios né, que evoca mesmo essa ideia de que a gente é um
pouco mágica, mas não precisa ser necessariamente mágica, basta ser autônoma para ser uma
bruxona. Na sociedade que nós estamos, a gente acaba
tendo aquela coisa da resistência, né? Para conseguir se firmar, se impor e a bruxa,
se você for parar para pensar, você nunca vê ela sendo representada como alguém frágil. A ‘Malévola’, por exemplo, é parte desse
processo de redenção, de enxergar a bruxa de uma forma mais humana, né? Porque quando a gente fala de mulheres poderosas,
donas de si, que pensam com a própria cabeça, inteligentes, né? As bruxas são muito isso. Não dá muito para fugir disso, então, talvez,
hoje, a gente se identifique mais, enquanto mulheres, com as bruxas do que com as princesas,
né? Ser bruxa é? Para mim, é maravilhoso, é cura, é resistência,
como eu disse, é a força da mulher e aprendizado todos os dias.
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